Jornal Estado de Minas
Belo Horizonte
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DVD 14 BIS AO VIVO - Charme de uma história
cultura.em@uai.com.br
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Às vésperas de completar 30 anos de carreira, o14 Bis mostra que continua adorando o que faz.
Walter Sebastião
O rock, muitas vezes, com discutível facilidade e algum esnobismo, adora trocar sua história real por outra lendária, mítica. Tudo bem, há artistas e bandas que em um, dois, três discos fizeram revoluções. Mas nem por isso é menos charmosa a carreira de grupos que lutam/lutaram bravamente para compor sua obra, construída ao longo do tempo, o que presume vários discos, mostrando todo drama posto pela vontade de desenvolver uma linguagem. Como estes últimos não podem curtir os lucros da legenda “mortos” no auge do sucesso, só resta trabalhar, e muito. Muitas vezes, em constante enfrentamento com indústria que odeia singularidades, já que elas colocam o poder na mão do talento e não da máquina. E o primeiro derrota, sempre, a segunda.
Mesmo que leve tempo. É peso excessivo colocar a bela música do 14 Bis como exemplo desse fato. Mas são criações que mostram também isso. Às vésperas de completar 30 anos de carreira (13 discos), praticamente com a formação original (Magrão, baixo; Cláudio Venturini, guitarra; Vermelho, teclado; Hely Rodrigues, bateria), eles vão bem.
Estão em paz com sua história e continuam adorando fazer música. Como ficou claro no lançamento do primeiro DVD da banda, sábado, no Music Hall. Fazem show como se fosse concerto – é tudo muito divertido, mas não de embalo. Coisa de geração que entende o rock como música e não ritmo. Em quase duas horas exibiram, com mestria, rock autoral, elaborado, que faz conviver peso e leveza, melodia e ritmo, canto e poesia.
Canções que, saudando a vida, a amizade, a natureza, a viagem, se opõem à guerra, solidão, opressão e ao medo. Qualidades, diga-se, que o tempo só tem burilado, trazendo à música do grupo brilho digno de nota. O repertório foi retrospectivo (com algumas inéditas), mas frisando jóias, ainda pouco ouvidas como Mais uma vez , com letra de Renato Russo (e foi o próprio que pediu para escrever o texto da música). E, nesses momentos, o espetáculo mostrou música com tamanha identidade instrumental que, pode-se dizer, todo mundo conhece a sonoridade do 14 Bis e não as canções. Os clássicos vieram aos poucos: Uma velha canção rock and roll; Bola de meia, bola de gude; Caçador de mim; Canção da América; Espanhola; Todo azul do mar; Sal da Terra; Linda juventude.
Tudo deixando explicito a carreira longa que, sem negar uma origem (a face pop do Clube da Esquina), dialoga com vários momentos (inclusive vertentes que vieram com os anos 1980), filtrando o que interessa ao projeto do grupo.
Com a distancia do tempo, vai ficando evidente algo que e' bom reafirmar com clareza: o 14 Bis e' banda fundamental, histórica, do rock brasileiro. Não só uma das de melhor qualidade, mas também das mais originais. Quem duvida deve ver o show, que esta' em turnê pelo Brasil. Ou o DVD. Ou redescobrir discos deles que estão no fundo da gaveta e merecem ir para as prateleiras dos clássicos do BRock.
Walter Sebastião - Cad. Cultura Jornal Estado de Minas
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